Normalmente, a ficha de autoridades que perdem cargos de alta relevância demora a cair. Mas o destino foi implacável com Anderson Torres. Até o dia 31 de dezembro de 2022, o ex-ministro da Justiça de Bolsonaro mandava e, sobretudo, desmandava na Polícia Federal. Decorridos 19 dias, compareceu à presença de um delegado federal na condição de preso sob investigação. Descobriu que pedestal não tem elevador.
Anderson é assediado por duas suspeitas. Numa, é acusado de sabotar a operação policial que deveria ter evitado o quebra-quebra de 8 de janeiro. Noutra, é acossado pela minuta de decreto apreendida em sua casa, prevendo a intervenção federal no TSE e anulação da eleição de Lula. Imaginou-se que Anderson teria pressa para se livrar das culpas que lhe atribuem. Mas ele preferiu exercer o direito constitucional ao silêncio.
Anderson é defendido por Rodrigo Roca, o mesmo advogado que socorreu Flávio Bolsonaro no caso da rachadinha. O doutor cumpriu o seu papel ao evitar que o cliente corresse o risco de se autoincriminar. Mas o silêncio deu a Anderson a incômoda aparência de cúmplice indefeso de um plano golpista que Bolsonaro só não executou por falta de apoio.
Foi marcado para segunda-feira um novo depoimento. Até lá, o advogado Roca espera descobrir o que a PF já sabe sobre as ações e omissões de Anderson no verão passado. A defesa talvez consiga estruturar um plano de redução de danos. Mas Anderson, delegado federal de carreira, já não cultiva a ilusão de que merece o respeito da força policial que comandou.
Desde que voltou dos Estados Unidos no sábado, desacompanhado do seu telefone celular, o ex-ministro se deu conta de que merece interrogatório, não respeito. O advogado avisou que Anderson, quando falar, não fará delação premiada. Bolsonaro respira momentaneamente aliviado.
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